Em 20% dos casos de violência na escola, estudantes são tanto vítimas quanto agressores
Jovens foram filmadas brigando em Senador Guiomard. Foto: agazeta.net |
As imagens de duas estudantes saindo aos ‘tapas’ na saída da Escola
15 de Junho, em Senador Guiomard (a 25 quilômetros de Rio Branco),
correram as redes sociais e foram destaque nos principais sites de
notícias regionais, na semana que passou. Um levantamento do
Policiamento Escolar – uma divisão da Polícia Militar do Acre – mostra,
no entanto, que houve uma redução nos casos de violência no âmbito do
espaço escolar no Acre, embora eles continuem.
No ano passado, em Rio Branco, somente nos primeiros quatro meses, ao
menos 414 casos de agressões envolvendo alunos foram registrados. Mas
um estudo mais aprofundado com base numa análise por região mostrou que
numa determinada área da cidade ocorreram muito mais casos do que em
outras.
Estima-se que esses números tenham caído consideravelmente, sobretudo, após palestras e atividades voltadas ao problema.
“A maior parte dos casos são de bullying”, relata a coordenadoria-geral do Policiamento Escolar, em relatório sobre os casos.
O termo vem do inglês bully, que significa “valentão”. Bullying então
é o ato da covardia feita pelo tal “todo-poderoso”, geralmente permeado
de violência física ou psicológica, e repetidos por várias vezes.
Há um consenso entre os especialistas que 20% dos casos de violência
no ambiente da escola, os estudantes são tanto vítimas quanto agressores
de bullying. Eles cometem, mas também são vítimas de assédio.
“O problema se agrava quando a situação descamba para a agressão
extrema”, ressalta o sargento da Polícia Militar, Reginâmio Bonifácio,
coordenador administrativo da Guarda Mirim, uma das mais novas armas
contra esses tipos de violência.
Ele afirma que o problema é contornado com um trabalho de educação
extraclasse que envolve motivação e diálogo com os familiares desses
jovens.
Descaso familiar e drogas contribuem
Além desses fatores, há outros em jogo que estimulam a violência: a rebeldia desregrada pela falta de controle dos pais que converge para a droga e o álcool.
Muitas vezes não há interesse da mãe ou do pai de saber como anda a
vida escolar do filho e alguns até apoiam atos violentos. Esse é um
fator levado em conta, por exemplo, pelo Programa Educacional de
Resistências às Drogas, o Proerd, também tocado pela Polícia Militar.
Em 14 anos, o programa já formou mais de 110 mil replicadores de
cidadania. Jovens que tinham tudo para enveredar na marginalidade, cujas
energias foram canalizadas para o bem.
Em Rio Branco e cidades do interior onde está uma equipe do Proerd,
segundo dados do próprio programa, o uso de cigarro e álcool no âmbito
escolar varia de 1,5% a 2%, contra 6% nas escolas que ainda não dispõem
de instrutores.
Com os indivíduos são aperfeiçoados a autoestima a médio e longo prazo, permitindo-lhes um salto de qualidade.
O problema é quando esses adolescentes ‘escapam’ do ensino
fundamental sem ter se beneficiado do programa. É o caso dos que
insistem em brigar no ensino médio, onde o Proerd não está.
A boa notícia é que um encontro recente entre promotores do
Ministério Público do Estado do Acre, representantes do Juizado da
Infância e da Juventude e o Policiamento Escolar definiu metas de
abordagens a esses estudantes e, principalmente, o acompanhamento deles
no seio familiar.
Guarda Mirim
Trabalho recente da Polícia Militar, integrado com a Polícia Escolar, a Guarda Mirim já sinaliza como uma luz no fim do túnel da redução dos índices de violência no Recanto dos Buritis.
A região até pouco tempo considerada umas das mais violentas, era
motivo de preocupação para os órgãos de segurança, mas não já registra
conflitos extremos no perímetro das escolas.
Em escolas como a Professor Josué Fernandes e Jornalista Chalub
Leite, jovens entre 14 e 17 anos, antes aliciados pelo tráfico são hoje
recrutados ao batalhão do bem da Guarda Mirim, de onde podem, inclusive,
participar de cursos profissionalizantes.
Agora mesmo, 120 jovens estão tendo disciplinas extras de boa
convivência na comunidade e já optaram por cursos como o de agente de
endemias e auxiliar administrativo.
A ideia da Guarda Mirim é formar adolescentes preparados para atuar
em favor da própria comunidade onde residem. A lógica é que eles
canalizem suas forças para o bem. Por enquanto, a nova instituição vem
obtendo êxitos significativos.
Estima-se que houve uma diminuição de 80% dos casos de violência entre indivíduos na própria escola.
Adicionando a estes números os mais de 560 bombeiros mirins do Corpo
de Bombeiros, é possível vislumbrar que se é impossível estancar as
agressões sofridas pelos estudantes, há o trabalho incessante das
instituições de reduzir ao máximo essas situações.
Agazeta.net